domingo, 26 de agosto de 2007

O início da história...




Sempre sonhei ser mãe.Casei-me em dezembro de 2000 com um homem maravilhoso, o Alan, um verdadeiro presente de Deus. Mas sempre soube que teria dificuldades para engravidar, pois não menstruava. Quando decidimos ter um filho,fomos ao médico para iniciar o tratamento. Fiz muitos exames, alguns dolorosos e enfim foi diagnosticado o problema, era hormonal. Uma das residentes que me atendeu me disse que era pra eu não ficar pensando emter filhos não porque seria muito difícil pra mim. Eu, que havia recebido uma promessa de Deus (Isaías 44, 1-5), não dei ouvidos.Continuei lutando por esse sonho.
Ficamos então sabendo que eu teria que tomar injeções de hormônios, muito caras. Como tínhamos algum dinheiro guardado, iniciamos o tratamento,em maio de 2005. Foram dois ciclos sem resultado. Sofri muito,perguntava a Deus se Ele não me ouvia, ou se eu não era digna daquela Graça. Tive que interromper o tratamento pois o dinheiro acabou.
Continuei trabalhando e sonhando com o meu bebê. Pedia a Deus pra que eu pudesse engravidar sem o tratamento, mas não era a hora dEle. Consegui um trabalho extra, substituir uma colega por um mês, com isso entrou mais dinheiro, e eu só pensava em retomar o tratamento.
Em novembro decidimos que era hora de tentar de novo. Não tínhamos muito dinheiro,mas eu senti que aquele era o momento, que minha bênção enfim estava chegando. Foi mais um ciclo, eu acreditava, mas ao mesmo tempo tinha pavor daquele terrível resultado “negativo”.
No dia 27 de dezembrode 2005 fiz o exame de sangue e ouvi pelo telefone a palavra mais esperada da minha vida: POSITIVO!!! Glória a Deus, enfim chegara anossa vez!
Porém apenas dois dias depois eu tive o primeiro sangramento. Foi só um susto, mas isso ocorreu várias vezes, cheguei a pensar que havia abortado. Meu marido disse uma vez, de madurgada, enquanto eu chorava ao perceber mais um sangramento: “não questione ao Senhor, apenas confie. Se nós perdemos nosso filho, pelo menos Deus permitiu que sonhássemos e fôssemos felizes por uma semana.”
Aquelas palavras me emocionaram. Fomos à primeira consulta e lá vimos pelaprimeira vez nosso bebê. Tinha apenas 3 milímetros e seu coraçãozinhojá batia! Que emoção!
Antes de engravidar, em um exame fiquei sabendo que teria de fazer uma cerclagem, ou seja, um ponto ao redor docolo do útero, pois de outro modo este não poderia sustentar uma gravidez até o fim. Fiz então a cerclagem com 13 semanas e permaneci de repouso absoluto.
Tive uma redução de líquido com 22 semanas, masG raças a Deus normalizou. Foi quando prestei atenção na letra daquela música: “haverá um milagre dentro de mim, vem descendo um rio pra medar a vida, esse rio que brota lá da Cruz, do lado de Jesus...”

Segunda-feira, 5 de junho de 2006, enfim entrava na 28ª semana degestação. A doutora Celeste havia dito que nada poderia fazer pelo bebê antes disso. Acordei umas 8:35, tinha que me arrumar pois a ministra da Eucaristia chegaria logo para me trazer a Comunhão. Sentei-me na cama, puxei uma calcinha na gaveta do guarda-roupa e me levantei... nunca vou me esquecer daquele momento. Quando fiquei de pé vi um monte de água jorrando de dentro de mim. Fiquei paralisada por alguns instantes. Em seguida, com um gemido chamei: amor... em dois segundos ele estava dentro do quarto, com os olhos arregalados olhando toda aquela água que ainda jorrava.

Foi uma correria: ligamos pra doutora, que ordenou que fôssemos para a clínica. Ligamos para a minha mãe, que avisou meu pai. Enfim, em pouco tempo estávamos todos dentro do carro a caminho da maternidade. Claro, levamos câmeras para registrar tudo. Acho que eu não tinha noção da gravidade do que estava acontecendo comigo. Chegando à clínica, a doutora lá estava de pé, na recepção me esperando. Ao nos ver, ainda comentou: “ninguém trabalha nessa família?” ainda tinha bom humor, naquele momento. Ela me examinou e disse: “você sabe que as chances dele são muito pequenas, não sabe?” “maiores do que antes”, eu respondi. Ainda assim ela fez questão de deixar bem claro que o bebê tinha grande risco de não sobreviver.

A idéia era tentar segurar o bebê por dois dias, a fim de que eu tomasse injeções de corticóide para amadurecer o pulmãozinho dele. Fui para um outro hospital, a Amiu em Jacarepaguá, pois na clínica onde fiz o pré-natal não havia uti neonatal. Chegando lá, fui internada, fiz alguns exames e comecei a tomar as injeções. Porém, comecei a dar sinais de infecção e o parto teria de ser antecipado para o dia seguinte, terça-feira. Foi um dia difícil, não sei oque se passava na minha cabeça. Minha família ficou comigo, mandei torpedos para alguns amigos, avisando que o bebê nasceria no dia seguinte e pedindo orações. No momento em que entrei no quarto havia uma mãe que estava recebendo alta. Ela estava um pouco triste, pois sua bebezinha, a Sophia, estava na uti.“Meu filho também ficará lá”, eu disse. Ela, com aqueles olhos tristes, foiembora. Depois eu falo mais sobre ela.

Mais tarde, internou uma moça no meu quarto, a Raquel. Era uma jovem cheia de vida, seu filho nasceria dali a pouco. Conversar com ela me ajudou arelaxar um pouco. Tempos depois, ela foi para o centro cirúrgico e nasceu: erao Kaio, um menino bem saudável.

Dormi aquela noite, minha cabeça a mil. No fundo, queria queamanhecesse o dia, que chegasse logo a hora do parto. Na manhã seguinte, aespera. A doutora já estava lá, mas a equipe ainda não chegara. Nessa hora a Daniela já havia chegado de Juiz de Fora, onde morava. Enfim, haviam me dito que eu operaria entre oito e dez da manhã, até uma da tarde ainda não havia ido pro centro cirúrgico.

Não sei a que horas entrei. Nessa hora, estavam lá meus pais, o Alan e a Daniela. O Alan gostaria de assistir o parto, mas a doutora não permitiu,disse que era um parto de alto risco, que haveria muita gente lá dentro. Despedi-mede todos, a Raquel me disse que tudo daria certo. Aquela maca, as luzes passando sobre mim, era a terceira vez que entraria em um centro cirúrgico e não era das melhores sensações. Entrei.

Lembro-me de que havia uma música tocando lá dentro, não sei qual. Posicionei-me para a anestesia peridural e recebi a linda agulhada. A pediatra que estava lá,a dra. Andréia (mesmo nome da obstetra) me fez algumas perguntas e me avisou que não me mostrariam o bebê. Senti muito enjôo e falta de ar. Já não sentia mais do peito pra baixo. Depois de alguns minutos, ouvi a enfermeira dizer: “14:47”. “Meu filho nasceu”, pensei. “Já nasceu”,disse a enfermeira. Sinceramente, meu interior era uma confusão só. Uns instantes e eu ouvi um choro. Sim, meu filho chorou! O Alan e a Daniela também puderam ouvir de lá de fora. Foram momentos estranhos, acabara de ter um filho,mas não o estava vendo. E agora, o que acontecerá?

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