domingo, 26 de agosto de 2007

PARABÉNS PARA MIM!!!



Como vcs devem ter percebido, resolvi mudar de blog, pq este tem mais recursos. Vou ainda manter o outro, pq não copiei todas as postagens de lá, só a nossa história inicial. Mas a partir de agora, só postarei aqui. Hoje é meu niver, estou fazendo 28 aninhos de vida... Meu niver é sempre um dia feliz pra mim. A minha família veio almoçar aqui em casa hoje: meus pais, minhas irmãs, meu sobrinho Rafael e a Débora. Fiz uma comidinha bem light: FEIJOADA! rsrs... é que eu estava há um tempão querendo comer isso. Vcs estão vendo minha largura? Prometo que amahã volto pra academia... (e pago o mês de agosto, que tá atrasado!) Bem, a tradicional dieta de segunda-feira, não sei... tá ceio de feijoada na panela, além da sobremesa deliciosa que minha mãe fez, isso sem contar os refris. Vai ser difícil resistir, mas vou tentar. Nosso milagre continua sapequinha, fez estimulação essa semana (fono), que lindo! Sabem, tudo o que ele faz me orgulha. Lindo! lindo! Não tenho novidades relevantes, está tudo muito no comecinho. A fono deu vários brinquedihos barulhentos pra ele brincar, ele brincou um pouco, mas ficou desconfiado, o tempo todo querendo vir pro meu colo. Ele tá numa fase bem agarrada, até que eu gosto disso. Agora nós estamos reaprendendo a nos comunicar com ele. Falar de frente, caprichar na expressão facial, mostrar bem o que queremos dele, com muitos gestos, além de falar bastante. Já estou sentindo diferença, por exemplo: ele pôs a escova de cabelo na boca, eu o fiz olhar pra mim, fechei o rosto e falei firme, sem gritar: "não pode colocar a escova na boca.", apontando a escova e a boca. Pronto, parou! não sei se é marotice dele, ou se isso funciona mesmo. Bem, vou saindo e deixando um grande beijo pra todos vcs. Fiquem na paz de Jesus, Ele é mesmo maravilhoso.

Feliz dia das Mães!


(POSTAGEM ESCRITA EM 13/05/2007)



Enfim, nossa alegria estava completa. O Mateus em casa conosco, aquela deliciosa (e cansatiiiiiiiiiva) rotina de amamentar/trocar fralda/por pra arrotar/amamentar... era tudo o que eu queria da vida. Nossa vida se transformou para muito melhor.
Mateus teve de ser internado mais duas vezes, porque as hérnias desceram novamente, exatamente 1 e 2 meses depois da alta, mas foi tudo bem mais tranqüilo do que a primeira internação.
Infelizmente, na segunda internação tivemos uma tristíssima notícia: nossa Sophia virou um anjinho, a traquéia dela não passava o tubo (lembram que ela ia operar no mesmo dia do Mateus...), ela foi transferida para outro hospital, tentaram novamente, e a traquéia inchou e fechou de vez. Muito triste, sempre lembro dela, muito linda, branquinha, tinha os olhos azuis, os cabelos pretinhos e lisinhos... uma bochecha muito gostosa! que anjinho lindo que foi pro céu... lembro dos pais dela, nem sequer ficamos sabendo seus nomes... mas eles estarão sempre nas minhas orações.

...

Gente, nosso Mateus cresceu e hoje tem 11 meses. Se quiserem ver mais um pouquinho da história dele em fotos, ele tem um flog: www.flogao.com.br/mateuspfs
Hoje é dia das mães... ano passado ele estava dentro da minha barriga, uma gravidez difícil, mas mesmo assim muito querida e feliz. Hoje fomos à Missa, visitamos as avós... passei o dia das mães juntinho com meu milagre, comecei o dia amamentando. É uma sensação maravilhosa, nada pode explicar o que estou sentindo hoje.
Deus é maravilhoso, ele tudo pode, e nos carrega nos braços quando mais precisamos. Mateus me ensinou muito a melhorar minha relação com Deus, mas ainda tenho muito a aprender. Por hora, só posso dizer:

MUITO OBRIGADA, MEU DEUS!!!

obrigada a todos os que estão acompanhando essa história, ela não acabou! podem deixar comentários, serão sempre bem-vindos. Vou continuar a contar nosso testemunho, porque cada dia da vida do Mateus é mais um milagre de Deus pra nós.

FELIZ DIA DAS MÃES A TODAS!!!

Enfim, a grande alegria de ser mãe plenamente




Pegamos o carro e fomos primeiro à casa da tia Rita, só o meu tioJoanir estava em casa, se emocionou muito ao nos ver com nosso filho nosbraços. Ligou para a Jamaica (sua filha, minha prima) e nem conseguiu dar anotícia, estava chorando. Eu, então, falei com ela ao telefone, ela pediu queesperássemos, mas dissemos que precisávamos vir para casa.

Viemos embora, felizes pelo caminho, o Alan dirigindo lentamente pelaLinha Amarela, que sonho lindo! Eu, muito preocupada, verificava a todoinstante a respiração do bebê. Ele parecia sentir calor, acho que eu exagereina roupinha da alta. Chegando ao bairro, passamos pela confecção onde minha mãetrabalha e paramos. Do portão, mandamos chamá-la. Ela apareceu e me viu comaquele “embrulho” nos braços, não se conteve. Começou a gritar pra todas ascolegas de trabalho. “o meu neto! Sabem quem está aqui? O meu neto!!!” entramose ela pegou o neto no colo, todos estavam comemorando.

Enfim chegamos em casa. O Alanligou para o meu pai e disse que a visita havia mudado de lugar, que agoraseria na rua Pedro Jório, 286 (nosso endereço). Fez o mesmo com a Jussara,minha tia, que já até havia saído de casa para visitá-lo na UTI. Mandei umamensagem para a Carla, minha irmã caçula, e pedi que ela passasse aqui em casa. Ela ligoupreocupada, perguntando se algo havia acontecido. Eu disse que só queria queela fizesse um favor para mim. Ao chegar e ver o Mateus no carrinho, começou achorar. A Daniela também veio aqui por acaso e também foi surpreendida. Enfim,fizemos uma grande surpresa a todos, o dia mais feliz das nossas vidas, juntocom o nascimento dele.

Foi um dia muito especial, tudo para nós era novo, tudo era umadescoberta. A nossa descoberta verdadeiramente como pais. Sim, finalmenteéramos pai e mãe do Mateus, os cuidados dele estavam totalmente em nossas mãos,com a ajuda de Deus. Minha mãe resolveu que dormiria aqui nos primeiros dias. Aamamentação era bem trabalhosa, pois eu não tinha leite suficiente e precisavacomplementar com Nan. Como não queria que ele largasse o peito, dava ocomplemento num copinho, mas era muito difícil, entornava muito. Fiquei assimtentando por uns dois dias, depois me rendi à mamadeira. Mesmo assim elecontinuou mamando no peito, garoto esperto, sabia muito bem o que é bom praele.

Na primeira noite, simplesmente não dormimos. O pusemos no carrinho, aolado da cama, e qualquer gemido ou ruído que ele fazia, lá estávamos nós com acara em cima dele, para checar se estava tudo bem, quando ele chorava paramamar, todos acordavam, inclusive minha mãe, que levantava e vinha ao nossoquarto para ver. Amanheci passando mal de tanto cansaço.

A espera pela vitória


No dia seguinte, tinha uma consulta com a ginecologista pela manhã.Antes de ir, liguei para a UTI e a enfermeira chefe disse que falaria comigo.“Qual a novidade agora?”, eu pensei. E ela me falou que o Mateus passara anoite muito bem, precisava do mínimo de oxigênio e estava ótimo. Enfim, uma boanotícia. Um pouco mais tarde, já na clínica eu liguei novamente, dessa vez pelocelular e falei com o médico, que confirmou a melhora.

Fomos à UTI e encontramos nosso filhinho melhor. Passou todo o diamuito bem, e foi melhorando a olhos vistos. Numa sexta-feira os médicosdecidiram tirar o tubo de oxigênio, voltou para o CPAP. Foram dias de alívio,sua saúde estava bem melhor. No dia seguinte tentaram tirar o CPAP mas ele nãoconseguiu.

Isso durou uns cinco dias. Estávamos começando a desanimar novamente.Uma terça-feira, sentados ao lado da incubadora, a médica passou e viu meusemblante. Perguntou por que eu estava daquele jeito, se ele estava tão bem.Não consegui abrir a boca para responder. Logo ela percebeu que estávamoscansados de tanta espera. O Alan perguntou se só tentavam uma vez deixá-lo emar ambiente e depois desistiam. Ela, então resolveu tirar o CPAP dele “só praver se melhora essa cara”, disse. Desde então, nem tocávamos nele para não darnenhuma alteração.

Ao fim do plantão, a doutora tirou todos os equipamentos de oxigênio, enós comemoramos. O Alan foi para a faculdade e eu ainda fiquei lá, quando saíestava bem. No dia seguinte, pela manhã, ligamos pra lá e tivemos uma ótimanotícia: o Mateus continuava em ar ambiente. Enfim, podíamos pegá-lo no colo,nosso filho não precisava mais de oxigênio! No sábado seguinte, começamos atentar a sucção – até então, a alimentação era feita pela sonda que levava oleite até o estômago. Tentamos algumas vezes, mas ele não conseguiu logo, o queera muito normal, já que era prematuro e nunca havia sugado.

O dia seguinte era o domingo do dia dos pais. Fomos à Missa das 7 damanhã, visitamos rapidamente o meu pai, o Alan ligou para o pai dele e explicamos que passaríamos todo o diana UTI. Foi um dia feliz, muito feliz. Mateus estava melhorando muito, ficoubastante tempo no colo. Tentamos fazê-lo mamar meio dia e 3 da tarde, mas eleestava muito preguiçoso. Às 6 da tarde, sim, estava bem acordado. Quando oposicionei para mamar, surpresa! Nem precisei colocar o peito na boquinha dele,ele mesmo abocanhou e começou a sugar. Sugou por 35 minutos diretos! Quealegria.

Houve umas duas internações nesse dia, e, quase ao fim da visita, aenfermeira sugeriu: “vamos precisar de uma incubadora de parede dupla, bem queo Mateus podia ir para a pré-alta”. Nosso coração disparou, nos entreolhamos edemos um sorriso de orelha a orelha. Sim, o Mateus foi “despejado” daincubadora e foi para a pré-alta! “Nosso filho foi pra pré-alta! Hoje é dia dospais!” , o Alan disse, entre lágrimas. Fomos para casa numa felicidade sem fim.

Esse dia dos pais foi 13 de agosto de 2006. Com poucos dias de vida,fora diagnosticada uma hérnia inguinal, ou seja, uma alça do intestino quedescia para o saquinho dele. A indicação era de cirurgia, mas antes ele tinhamuito pouco peso, sem contar as várias infecções que ele teve. Quando enfim eleapresentou uma melhora significativa, sua cirurgia de hérnia foi marcada para odia 16 de agosto. Nosso maior medo era de que ele não conseguisse deixar o tubodepois da cirurgia. Os dias seguintes foram de alívio e expectativa. Mateus jámamava no peito e eu passava boa parte do dia lá para amamentar. Ele chegou apesar 2,505 kg,mas depois que começou a sugar perdeu um pouco de peso.

Enfim, chegou o dia da cirurgia da hérnia. Neste mesmo dia internou denovo a Sophia, filha da moça que teve alta quando eu internei. Ela nasceuprematura, e depois de alguns dias atingiu o peso mínimo para a alta e foi paracasa. Porém havia nascido com uma malformação, seu ânus era muito próximo àvagina, o que os médicos chamaram de “ânus anteriorizado”. Faria a cirurgialogo após o Mateus.

Ele ficou de dieta zero desde as 6 da manhã, não me lembro que horasentrou para o centro cirúrgico, mas fomos junto com ele, ao lado da incubadorade transporte (aquela mesma que o pegou quando nasceu), ficamos na porta docentro, com o terço na mão, rezando. Fazia 8 dias que ele não precisava deoxigênio, mas precisaria ser entubado por causa da anestesia geral, tínhamosmedo de que não fosse possível tirar o tubo logo depois da cirurgia.

A cirurgia levou pouco mais de 1 hora. As enfermeiras então descerampara buscá-lo e nós finalmente o vimos. Ele saiu assim como entrou: chorando,esperneando, sem o tubo. E nós, felizes da vida, voltamos com ele à UTI. Vestisua roupinha enquanto o Alan dava a notícia a todos, peguei-o no colo e oacalmei.

A Sophia voltou tão rápido do centro cirúrgico, achamos estranho. Foiposta na incubadora com um capacete de oxigênio, o HOOD. Então ficamos sabendoque ela não foi operada porque não conseguiram entubá-la. Os médicos da UTIdemonstravam preocupação, nós não tínhamos muita idéia do que realmenteacontecia. Quando fomos à padaria lanchar, depois que o Mateus dormiu,encontramos os pais dela voltando ao hospital, eles pensavam que ela já haviaoperado. Não dissemos nada. Ao voltarmos, a mãe dela chorava, o pai muitopreocupado tentava acalmar a esposa. A menina precisaria ficar mais tempointernada se recuperando, talvez precisasse fazer uma traqueostomia parareceber oxigênio durante a cirurgia.

O Mateus só acordou no fim da tarde, mamou, parecia bem. Ficamos assimjuntos até o fim do dia, fomos para casa tranqüilos.

Ao chegarmos no dia seguinte, uma pediatra, a doutora Cássia nosperguntou: “alguém já conversou com vocês sobre alta?” nos entreolhamos e oAlan disse: “na verdade, não, e não íamos nem perguntar se a senhora nãofalasse”. Ela então disse que era melhor esperar 48 horas depois da cirurgia,para melhor observá-lo. “amanhã!” pensamos. Decidimos não contar a ninguém,para que fosse uma surpresa. Assim, passamos mais um dia feliz ao lado do nossocampeão. O Alan foi para a faculdade e eu fiquei até um pouco mais tarde. Aodescer o elevador, pensei: “será que essa será a última vez que descerei esseelevador sem meu filho?” e no ônibus: “será que é a última vez que irei pracasa sem meu filho?”

Sexta-feira, 18 de agosto de 2006. Saímos de casa com o coraçãodisparado, será que vai ser hoje? Fomos ao hospital cheios de esperança. Játínhamos tudo planejado: faríamos uma surpresa à minha família.

Entramos na UTI muito ansiosos, fomos direto ver o bebê. Nenhuma dasduas pediatras de plantão veio falar conosco; uma delas, pegava a veia de umbebê. A outra, ao telefone, ensinava o dever de casa ao filho. Ríamos ao mesmotempo da cena de irritação da doutora Rosane e de nervosismo pela falta deinformação.

Decidimos então chegar até o balcão para ver se alguém falava conosco.Após terminada a “aula” da doutora, e a risada de toda a uti diante dasituação, ela olhou para nós e falou: “O MATEUS VAI EMBORA HOJE, VOCÊS SABEM,NÃO É?” eu respondi que desconfiávamosmas não tínhamos certeza. Nos aproximamos do nosso filho. Nos entreolhamos. Nosabraçamos e choramos. “Vamos levar nosso filho pra casa!” , repetíamos.Abraçamos o Mateus, parecia um sonho. Colocamos a roupinha, desliguei-o daqueleaparelho chato, esperamos as orientações da pediatra. Aquelas orientações queouvimos tantas vezes vendo outros bebês tendo alta e outros pais saírem felizesde lá com seus filhos nos braços. Foram tantos bebês... alguns nós fizemosamizade, como o Miguel, a Sophia, o João Gabriel, o Isaac... muitos quepassaram rapidamente por lá... Luiz Miguel, Pedro, Beatriz... enfim, forammuitos que entraram e saíram enquanto ainda estávamos lá esperando por ummilagre. E ele aconteceu, nosso filho cresceu, resistiu a inúmeras infecções,várias paradas respiratórias, uma parada cardíaca... pensando bem foram muitosmilagres.

Voltando, as orientações:nada de muitas visitas, pessoas gripadas, aglomerações, blábláblá... semexageros, porém. Os medicamentos, a alimentação... ouvíamos tudo aquilo eparecia que não era conosco, que era mais uma alta, de mais um bebê. Mas era onosso bebê. A nossa alta. A nossa vitória. Tiramos fotos com toda a equipe queestava de plantão, tiraram fotos de nós saindo da UTI, os rostos vermelhos dechorar.

Nos despedimos de todos, emocionados. Inclusive dos pais da Sophia, chamamoseles de “sogro e sogra”, em nome do Mateus, a menina era muito linda. Tiramos ocapote verde, descemos o elevador. Fomos até a marcação e marcamos consulta coma pediatra. Saímos do hospital e tiramos uma foto, parecia que tudo aquilo nãoera real.



Dias de esperança e angústia


Olhando para o lado, vi uma incubadora passando de longe, saindo pelaporta e o bebê lá dentro, muito, muito pequeno. “É o MEU FILHO”, refleti para verse conseguia interiorizar tudo aquilo que acontecia. Parecia que nada daquiloocorria realmente. Mais uns minutos e eu deixava o centro.

Saindo de lá, vi minha família olhando carinhosamente pra mim. “Viu?Viu?” era o que eu dizia a todos, apenas com os lábios, pois não podia falar.Sim, todos viram. O Alan correu pelas escadas para vê-lo entrar na uti. Eu fuilevada para o quarto.

Na hora da visita, o quarto estava lotado de gente. O Alan chegou e medeu as primeiras notícias sobre o bebê: nasceu com 1165 g e 39 cm. Não sabia muito maisdetalhes.

Naquela madrugada, a Raquel, minha colega de quarto teve uma crise dechoro porque não sabia amamentar direito, não sabia se cuidaria direito do seufilho, essas coisas. Eu olhava e via seu bebê ao seu lado e pensava no meu láem cima, na uti, tão pequeno, tão frágil. No fim da madrugada as enfermeirasvieram tirar a sonda e me ajudar no banho. Foi difícil! Estava muito fraca,precisei de amparo para não desmaiar.

No dia seguinte eu não tinha ainda noção do que havia acontecidocomigo: eu tive um filho!!! Que coisa estranha, tive um filho, mas cadê ele? Medespedi da Raquel, que foi embora com seu filho nos braços. A manhã passou, oAlan ainda não chegara para ir comigo até a uti.

Enfim, chegou o grande momento: era a hora de conhecer o meu filho.Subimos de elevador, a porta se abriu: “unidade neonatal de Jacarepaguá”.Entramos, ele me ensinou como lavar as mãos. Passamos pela próxima porta. Eleme ajudou a vestir um capote verde. Neste momento uma enfermeira fazia algumprocedimento com ele, foi pedido que esperássemos um pouco afastados. Sentei-mee comecei a olhar para alguma coisa, para tentar não desabar ali dentro, antesmesmo de ver o bebê. Passei os minutos reparando nos animaizinhos estampados emuma faixa próxima ao teto, que envolvia toda a uti.

Liberados para ir até a incubadora, andamos devagar até lá. E lá estavaele. Muito, muito pequeno. Sua cabecinha tinha o tamanho de um punho fechado.Havia vários eletrodos em seu corpinho, e um tubo de oxigênio em sua boca.“pode tocar nele”, o Alan disse. Pus minha mão pela janela da incubadora,toquei em sua pele. Era lisa, colava quando passava o dedo. Sentei-me, meusolhos fixos lá dentro. Minhas lágrimas então começaram a descer. Eram lágrimasde emoção, de preocupação. Fiquei muito impressionada com o seu tamanho. Estavadiante da pessoa que tanto amava, que tanto esperei, que tanto pedi a Deus.Voltei para o quarto e voltaria lá ao final da tarde, para ficar até as dez danoite, horário limite para a presença dos pais.

No dia seguinte tive alta. O Alan foi me buscar e ficamos na uti até ahora do almoço. Me informei sobre o leite materno. Fui até a sala de ordenha,mas não consegui tirar leite. Fomos para a casa da minha tia Rita, que morapróximo ao hospital. Voltamos à tarde pra uti e ficamos até a noite. Resolvemosque eu passaria os primeiros dias lá na casa da minha tia pois, estandooperada, não poderia me sacrificar com longas viagens e subir cinco andarestodo dia. À noite, quando chegamos lá, meu tio Joanir insistiu que o Alanficasse lá comigo. Ele aceitou, lógico.

Naquela noite, sentia muitas dores, principalmente nos seios, poishavia estimulado com a bombinha e estavam cheios, transbordando, empedrados.Durante o banho, eu chorava ao mesmo tempo de dor e tristeza, pois estava estourandode tanto leite, e meu filho não podia mamar. Graças a Deus o Alan estava lá eme ajudou.

Fiquei dez dias, até a retirada dos pontos, lá na casa da minha tia.Foram muito conturbados esses dias. Ora o Mateus estava muito bem, ora vinhauma notícia bomba. Como quando disseram que ele tinha uma pneumonia. Se fossehoje em dia, saberia que o pulmão dele fora muito castigado pelo nascimentoprecoce, e não me desesperaria tanto. Mas foi um dia horrível pra mim, chorei atémeu rosto ficar desfigurado.

Neste período também ficamos sabendo que ele teve uma hemorragiaintra-cerebral por causa da prematuridade, e que ficara um coágulo no seucérebro, que poderia causar acúmulo de líquido, desenvolvendo hidrocefalia. Foio que aconteceu, a médica me disse que seria preciso pôr uma válvula, meapavorei. Mas depois regrediu, e ficamos apenas acompanhando com exames.

Era um dia após o outro, um dia bom outro ruim. Demorou muito para sairde 1200 g.Com 11 dias ele saiu do tubo de oxigênio. Passou então a usar um aparelho quefica no nariz, o CPAP. Ficamos muito felizes, mas não sabíamos o quanto ele demorariaa deixar esse segundo. Os dias e semanas se passavam e Mateus não suportavaficar sem o aparelho por mais do que um ou dois dias. E seu narizinho começavaa ficar ferido, era uma dor imensa para ele e também para nós. Quando precisavatirar para pesar, ou para aspirar, ou qualquer coisa, parecia que ele ficavaaliviado, e na hora de recolocar, chorava baixinho de dor. Nesse tempo elepegou algumas infecções e precisou tomar muitos antibióticos. E nossa esperaficava cada vez mais angustiante.

Um dia uma das enfermeiras que cuidavam dele resolveu tentar tirar oCPAP dele, pois seu nariz já estava muito machucado. Para nossa surpresa eleagüentou bem. Passou alguns dias, uma semana mais ou menos assim. Ele ficavacom uma mangueirinha de oxigênio perto dele, às vezes precisava, às vezes não.Nesse período ele ganhou peso bem, chegou a 1945 gramas. Um dia, aoligar pra ter notícias dele fiquei sabendo que ele havia feito duas apnéias.Fiquei triste, porque parecia que tudo estava se encaminhando bem, não era horade voltar atrás agora.

Mas era. Chegamos ao hospital em uma terça-feira e vimos o carro dobanco de sangue. O Alan falou: “não gosto de ver esse carro”. Eu também tremipor dentro. Preferimos acreditar que aquilo não tinha nada a ver com o Mateus.Ao chegar na porta da uti, vimos que havia umas mangueiras a mais entrando pelaincubadora. “Ele voltou pro CPAP”, o Alan disse. Antes de entrarmos aenfermeira chefe disse que a doutora queria falar conosco na secretaria. E veioa péssima notícia: Ele fizera uma apnéia grave e não conseguiu sequer ficar noCPAP, foi entubado novamente.

Entramos enfim na uti, vimos o bebê, tão abatido, com aquele tubodentro de sua boquinha. A cena foi aterradora, não resisti e comecei a chorar.Tanto tempo de espera, parecia que ia acabar, voltamos ao início! Por queaquilo? Desanimamos um pouco, oramos juntos, choramos juntos. Os médicos diziamque o quadro poderia melhorar logo.

Dia após dia aguardávamos a melhora da saúde do Mateus. Mas nuncatínhamos boas notícias quando chegávamos lá. Sempre precisava de mais oxigênio,tentava abaixar os parâmetros do respirador mas ele não suportava muito tempo. Asituação era crítica. O auge do problema foi em na segunda-feira seguinte.Assim que entramos na uti a doutora nos avisou: “precisamos aumentar o oxigêniodele, pois a saturação caiu muito e o coraçãozinho dele até parou”. Eu não quisentender. Perguntei: “ele teve uma parada cardíaca?” e ela respondeu que sim.Inacreditável! Seria possível que Deus levaria o meu bebezinho? Nos aproximamoslentamente da incubadora. Ele estava lá, tenso, com os olhinhos assustados elacrimejando. Mordia o tubo e suas mãozinhas bem fechadas. O chefe da utipassou visita e soube do acontecido. No momento em que ele mandou que orespirador fosse trocado por um mais moderno, pediram que nós nos afastássemos.Desabei. Pensei que seria o fim, que perderia meu filho. Não queria, não aceitavaaquilo. . Os outros pais também ficaram sensibilizados com a nossa situação.

Estava tão abalada queresolvemos ir para casa. Falamos com o padre para que ele fosse ao hospitalbatizar o Mateus. Demos a notícia à nossa família, que ficou muito abalada. Nodia seguinte, voltamos para vê-lo. Estava estável, nenhuma intercorrência. Euparei de pensar que o bebê tivera uma parada e comecei a pensar que ele havia voltado de uma parada. À noite, em casa,chorei muito e orei a Deus com todas as minhas forças, que eram quase nenhuma.Entreguei de coração o meu filho a Ele, ainda que fosse para levá-lo de mim.

O início da história...




Sempre sonhei ser mãe.Casei-me em dezembro de 2000 com um homem maravilhoso, o Alan, um verdadeiro presente de Deus. Mas sempre soube que teria dificuldades para engravidar, pois não menstruava. Quando decidimos ter um filho,fomos ao médico para iniciar o tratamento. Fiz muitos exames, alguns dolorosos e enfim foi diagnosticado o problema, era hormonal. Uma das residentes que me atendeu me disse que era pra eu não ficar pensando emter filhos não porque seria muito difícil pra mim. Eu, que havia recebido uma promessa de Deus (Isaías 44, 1-5), não dei ouvidos.Continuei lutando por esse sonho.
Ficamos então sabendo que eu teria que tomar injeções de hormônios, muito caras. Como tínhamos algum dinheiro guardado, iniciamos o tratamento,em maio de 2005. Foram dois ciclos sem resultado. Sofri muito,perguntava a Deus se Ele não me ouvia, ou se eu não era digna daquela Graça. Tive que interromper o tratamento pois o dinheiro acabou.
Continuei trabalhando e sonhando com o meu bebê. Pedia a Deus pra que eu pudesse engravidar sem o tratamento, mas não era a hora dEle. Consegui um trabalho extra, substituir uma colega por um mês, com isso entrou mais dinheiro, e eu só pensava em retomar o tratamento.
Em novembro decidimos que era hora de tentar de novo. Não tínhamos muito dinheiro,mas eu senti que aquele era o momento, que minha bênção enfim estava chegando. Foi mais um ciclo, eu acreditava, mas ao mesmo tempo tinha pavor daquele terrível resultado “negativo”.
No dia 27 de dezembrode 2005 fiz o exame de sangue e ouvi pelo telefone a palavra mais esperada da minha vida: POSITIVO!!! Glória a Deus, enfim chegara anossa vez!
Porém apenas dois dias depois eu tive o primeiro sangramento. Foi só um susto, mas isso ocorreu várias vezes, cheguei a pensar que havia abortado. Meu marido disse uma vez, de madurgada, enquanto eu chorava ao perceber mais um sangramento: “não questione ao Senhor, apenas confie. Se nós perdemos nosso filho, pelo menos Deus permitiu que sonhássemos e fôssemos felizes por uma semana.”
Aquelas palavras me emocionaram. Fomos à primeira consulta e lá vimos pelaprimeira vez nosso bebê. Tinha apenas 3 milímetros e seu coraçãozinhojá batia! Que emoção!
Antes de engravidar, em um exame fiquei sabendo que teria de fazer uma cerclagem, ou seja, um ponto ao redor docolo do útero, pois de outro modo este não poderia sustentar uma gravidez até o fim. Fiz então a cerclagem com 13 semanas e permaneci de repouso absoluto.
Tive uma redução de líquido com 22 semanas, masG raças a Deus normalizou. Foi quando prestei atenção na letra daquela música: “haverá um milagre dentro de mim, vem descendo um rio pra medar a vida, esse rio que brota lá da Cruz, do lado de Jesus...”

Segunda-feira, 5 de junho de 2006, enfim entrava na 28ª semana degestação. A doutora Celeste havia dito que nada poderia fazer pelo bebê antes disso. Acordei umas 8:35, tinha que me arrumar pois a ministra da Eucaristia chegaria logo para me trazer a Comunhão. Sentei-me na cama, puxei uma calcinha na gaveta do guarda-roupa e me levantei... nunca vou me esquecer daquele momento. Quando fiquei de pé vi um monte de água jorrando de dentro de mim. Fiquei paralisada por alguns instantes. Em seguida, com um gemido chamei: amor... em dois segundos ele estava dentro do quarto, com os olhos arregalados olhando toda aquela água que ainda jorrava.

Foi uma correria: ligamos pra doutora, que ordenou que fôssemos para a clínica. Ligamos para a minha mãe, que avisou meu pai. Enfim, em pouco tempo estávamos todos dentro do carro a caminho da maternidade. Claro, levamos câmeras para registrar tudo. Acho que eu não tinha noção da gravidade do que estava acontecendo comigo. Chegando à clínica, a doutora lá estava de pé, na recepção me esperando. Ao nos ver, ainda comentou: “ninguém trabalha nessa família?” ainda tinha bom humor, naquele momento. Ela me examinou e disse: “você sabe que as chances dele são muito pequenas, não sabe?” “maiores do que antes”, eu respondi. Ainda assim ela fez questão de deixar bem claro que o bebê tinha grande risco de não sobreviver.

A idéia era tentar segurar o bebê por dois dias, a fim de que eu tomasse injeções de corticóide para amadurecer o pulmãozinho dele. Fui para um outro hospital, a Amiu em Jacarepaguá, pois na clínica onde fiz o pré-natal não havia uti neonatal. Chegando lá, fui internada, fiz alguns exames e comecei a tomar as injeções. Porém, comecei a dar sinais de infecção e o parto teria de ser antecipado para o dia seguinte, terça-feira. Foi um dia difícil, não sei oque se passava na minha cabeça. Minha família ficou comigo, mandei torpedos para alguns amigos, avisando que o bebê nasceria no dia seguinte e pedindo orações. No momento em que entrei no quarto havia uma mãe que estava recebendo alta. Ela estava um pouco triste, pois sua bebezinha, a Sophia, estava na uti.“Meu filho também ficará lá”, eu disse. Ela, com aqueles olhos tristes, foiembora. Depois eu falo mais sobre ela.

Mais tarde, internou uma moça no meu quarto, a Raquel. Era uma jovem cheia de vida, seu filho nasceria dali a pouco. Conversar com ela me ajudou arelaxar um pouco. Tempos depois, ela foi para o centro cirúrgico e nasceu: erao Kaio, um menino bem saudável.

Dormi aquela noite, minha cabeça a mil. No fundo, queria queamanhecesse o dia, que chegasse logo a hora do parto. Na manhã seguinte, aespera. A doutora já estava lá, mas a equipe ainda não chegara. Nessa hora a Daniela já havia chegado de Juiz de Fora, onde morava. Enfim, haviam me dito que eu operaria entre oito e dez da manhã, até uma da tarde ainda não havia ido pro centro cirúrgico.

Não sei a que horas entrei. Nessa hora, estavam lá meus pais, o Alan e a Daniela. O Alan gostaria de assistir o parto, mas a doutora não permitiu,disse que era um parto de alto risco, que haveria muita gente lá dentro. Despedi-mede todos, a Raquel me disse que tudo daria certo. Aquela maca, as luzes passando sobre mim, era a terceira vez que entraria em um centro cirúrgico e não era das melhores sensações. Entrei.

Lembro-me de que havia uma música tocando lá dentro, não sei qual. Posicionei-me para a anestesia peridural e recebi a linda agulhada. A pediatra que estava lá,a dra. Andréia (mesmo nome da obstetra) me fez algumas perguntas e me avisou que não me mostrariam o bebê. Senti muito enjôo e falta de ar. Já não sentia mais do peito pra baixo. Depois de alguns minutos, ouvi a enfermeira dizer: “14:47”. “Meu filho nasceu”, pensei. “Já nasceu”,disse a enfermeira. Sinceramente, meu interior era uma confusão só. Uns instantes e eu ouvi um choro. Sim, meu filho chorou! O Alan e a Daniela também puderam ouvir de lá de fora. Foram momentos estranhos, acabara de ter um filho,mas não o estava vendo. E agora, o que acontecerá?

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