domingo, 26 de agosto de 2007

A espera pela vitória


No dia seguinte, tinha uma consulta com a ginecologista pela manhã.Antes de ir, liguei para a UTI e a enfermeira chefe disse que falaria comigo.“Qual a novidade agora?”, eu pensei. E ela me falou que o Mateus passara anoite muito bem, precisava do mínimo de oxigênio e estava ótimo. Enfim, uma boanotícia. Um pouco mais tarde, já na clínica eu liguei novamente, dessa vez pelocelular e falei com o médico, que confirmou a melhora.

Fomos à UTI e encontramos nosso filhinho melhor. Passou todo o diamuito bem, e foi melhorando a olhos vistos. Numa sexta-feira os médicosdecidiram tirar o tubo de oxigênio, voltou para o CPAP. Foram dias de alívio,sua saúde estava bem melhor. No dia seguinte tentaram tirar o CPAP mas ele nãoconseguiu.

Isso durou uns cinco dias. Estávamos começando a desanimar novamente.Uma terça-feira, sentados ao lado da incubadora, a médica passou e viu meusemblante. Perguntou por que eu estava daquele jeito, se ele estava tão bem.Não consegui abrir a boca para responder. Logo ela percebeu que estávamoscansados de tanta espera. O Alan perguntou se só tentavam uma vez deixá-lo emar ambiente e depois desistiam. Ela, então resolveu tirar o CPAP dele “só praver se melhora essa cara”, disse. Desde então, nem tocávamos nele para não darnenhuma alteração.

Ao fim do plantão, a doutora tirou todos os equipamentos de oxigênio, enós comemoramos. O Alan foi para a faculdade e eu ainda fiquei lá, quando saíestava bem. No dia seguinte, pela manhã, ligamos pra lá e tivemos uma ótimanotícia: o Mateus continuava em ar ambiente. Enfim, podíamos pegá-lo no colo,nosso filho não precisava mais de oxigênio! No sábado seguinte, começamos atentar a sucção – até então, a alimentação era feita pela sonda que levava oleite até o estômago. Tentamos algumas vezes, mas ele não conseguiu logo, o queera muito normal, já que era prematuro e nunca havia sugado.

O dia seguinte era o domingo do dia dos pais. Fomos à Missa das 7 damanhã, visitamos rapidamente o meu pai, o Alan ligou para o pai dele e explicamos que passaríamos todo o diana UTI. Foi um dia feliz, muito feliz. Mateus estava melhorando muito, ficoubastante tempo no colo. Tentamos fazê-lo mamar meio dia e 3 da tarde, mas eleestava muito preguiçoso. Às 6 da tarde, sim, estava bem acordado. Quando oposicionei para mamar, surpresa! Nem precisei colocar o peito na boquinha dele,ele mesmo abocanhou e começou a sugar. Sugou por 35 minutos diretos! Quealegria.

Houve umas duas internações nesse dia, e, quase ao fim da visita, aenfermeira sugeriu: “vamos precisar de uma incubadora de parede dupla, bem queo Mateus podia ir para a pré-alta”. Nosso coração disparou, nos entreolhamos edemos um sorriso de orelha a orelha. Sim, o Mateus foi “despejado” daincubadora e foi para a pré-alta! “Nosso filho foi pra pré-alta! Hoje é dia dospais!” , o Alan disse, entre lágrimas. Fomos para casa numa felicidade sem fim.

Esse dia dos pais foi 13 de agosto de 2006. Com poucos dias de vida,fora diagnosticada uma hérnia inguinal, ou seja, uma alça do intestino quedescia para o saquinho dele. A indicação era de cirurgia, mas antes ele tinhamuito pouco peso, sem contar as várias infecções que ele teve. Quando enfim eleapresentou uma melhora significativa, sua cirurgia de hérnia foi marcada para odia 16 de agosto. Nosso maior medo era de que ele não conseguisse deixar o tubodepois da cirurgia. Os dias seguintes foram de alívio e expectativa. Mateus jámamava no peito e eu passava boa parte do dia lá para amamentar. Ele chegou apesar 2,505 kg,mas depois que começou a sugar perdeu um pouco de peso.

Enfim, chegou o dia da cirurgia da hérnia. Neste mesmo dia internou denovo a Sophia, filha da moça que teve alta quando eu internei. Ela nasceuprematura, e depois de alguns dias atingiu o peso mínimo para a alta e foi paracasa. Porém havia nascido com uma malformação, seu ânus era muito próximo àvagina, o que os médicos chamaram de “ânus anteriorizado”. Faria a cirurgialogo após o Mateus.

Ele ficou de dieta zero desde as 6 da manhã, não me lembro que horasentrou para o centro cirúrgico, mas fomos junto com ele, ao lado da incubadorade transporte (aquela mesma que o pegou quando nasceu), ficamos na porta docentro, com o terço na mão, rezando. Fazia 8 dias que ele não precisava deoxigênio, mas precisaria ser entubado por causa da anestesia geral, tínhamosmedo de que não fosse possível tirar o tubo logo depois da cirurgia.

A cirurgia levou pouco mais de 1 hora. As enfermeiras então descerampara buscá-lo e nós finalmente o vimos. Ele saiu assim como entrou: chorando,esperneando, sem o tubo. E nós, felizes da vida, voltamos com ele à UTI. Vestisua roupinha enquanto o Alan dava a notícia a todos, peguei-o no colo e oacalmei.

A Sophia voltou tão rápido do centro cirúrgico, achamos estranho. Foiposta na incubadora com um capacete de oxigênio, o HOOD. Então ficamos sabendoque ela não foi operada porque não conseguiram entubá-la. Os médicos da UTIdemonstravam preocupação, nós não tínhamos muita idéia do que realmenteacontecia. Quando fomos à padaria lanchar, depois que o Mateus dormiu,encontramos os pais dela voltando ao hospital, eles pensavam que ela já haviaoperado. Não dissemos nada. Ao voltarmos, a mãe dela chorava, o pai muitopreocupado tentava acalmar a esposa. A menina precisaria ficar mais tempointernada se recuperando, talvez precisasse fazer uma traqueostomia parareceber oxigênio durante a cirurgia.

O Mateus só acordou no fim da tarde, mamou, parecia bem. Ficamos assimjuntos até o fim do dia, fomos para casa tranqüilos.

Ao chegarmos no dia seguinte, uma pediatra, a doutora Cássia nosperguntou: “alguém já conversou com vocês sobre alta?” nos entreolhamos e oAlan disse: “na verdade, não, e não íamos nem perguntar se a senhora nãofalasse”. Ela então disse que era melhor esperar 48 horas depois da cirurgia,para melhor observá-lo. “amanhã!” pensamos. Decidimos não contar a ninguém,para que fosse uma surpresa. Assim, passamos mais um dia feliz ao lado do nossocampeão. O Alan foi para a faculdade e eu fiquei até um pouco mais tarde. Aodescer o elevador, pensei: “será que essa será a última vez que descerei esseelevador sem meu filho?” e no ônibus: “será que é a última vez que irei pracasa sem meu filho?”

Sexta-feira, 18 de agosto de 2006. Saímos de casa com o coraçãodisparado, será que vai ser hoje? Fomos ao hospital cheios de esperança. Játínhamos tudo planejado: faríamos uma surpresa à minha família.

Entramos na UTI muito ansiosos, fomos direto ver o bebê. Nenhuma dasduas pediatras de plantão veio falar conosco; uma delas, pegava a veia de umbebê. A outra, ao telefone, ensinava o dever de casa ao filho. Ríamos ao mesmotempo da cena de irritação da doutora Rosane e de nervosismo pela falta deinformação.

Decidimos então chegar até o balcão para ver se alguém falava conosco.Após terminada a “aula” da doutora, e a risada de toda a uti diante dasituação, ela olhou para nós e falou: “O MATEUS VAI EMBORA HOJE, VOCÊS SABEM,NÃO É?” eu respondi que desconfiávamosmas não tínhamos certeza. Nos aproximamos do nosso filho. Nos entreolhamos. Nosabraçamos e choramos. “Vamos levar nosso filho pra casa!” , repetíamos.Abraçamos o Mateus, parecia um sonho. Colocamos a roupinha, desliguei-o daqueleaparelho chato, esperamos as orientações da pediatra. Aquelas orientações queouvimos tantas vezes vendo outros bebês tendo alta e outros pais saírem felizesde lá com seus filhos nos braços. Foram tantos bebês... alguns nós fizemosamizade, como o Miguel, a Sophia, o João Gabriel, o Isaac... muitos quepassaram rapidamente por lá... Luiz Miguel, Pedro, Beatriz... enfim, forammuitos que entraram e saíram enquanto ainda estávamos lá esperando por ummilagre. E ele aconteceu, nosso filho cresceu, resistiu a inúmeras infecções,várias paradas respiratórias, uma parada cardíaca... pensando bem foram muitosmilagres.

Voltando, as orientações:nada de muitas visitas, pessoas gripadas, aglomerações, blábláblá... semexageros, porém. Os medicamentos, a alimentação... ouvíamos tudo aquilo eparecia que não era conosco, que era mais uma alta, de mais um bebê. Mas era onosso bebê. A nossa alta. A nossa vitória. Tiramos fotos com toda a equipe queestava de plantão, tiraram fotos de nós saindo da UTI, os rostos vermelhos dechorar.

Nos despedimos de todos, emocionados. Inclusive dos pais da Sophia, chamamoseles de “sogro e sogra”, em nome do Mateus, a menina era muito linda. Tiramos ocapote verde, descemos o elevador. Fomos até a marcação e marcamos consulta coma pediatra. Saímos do hospital e tiramos uma foto, parecia que tudo aquilo nãoera real.



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